texto um

 TEXTO UM


BOI


 


Ah boi, meu amado boizinho,


tua pele de veludo, meu sofá;


teus ossos pontudos, minha sopa,


teu rabo cheio de moscas ...


 


 


Ah boi, meu boizinho de asas,


um abraço de avó, gordo,


um desejo imenso de quero mais,


teu rabo cheio de moscas...


 


Eu tenho uma faca afiada, com serras,


eu tenho fome de matar, rasgar e mastigar,


eu não posso ver meu boizinho lindo,


e seu rabo cheio de moscas...


 


Vamos provar dessa carne, boi de merda,


quantos bifes, uma festa, tudo pra panela,


e mexe essa colher, e balança essas ancas,


engole o caldo que derrete tanta gordura.


 


Enquanto houver a merda desse boi,


enquanto a gente quiser mais o que a gente não tem,


enquanto o fogo consumir as carnes e a colher girar,


não vai haver sossego, não vai haver sono, não vai haver descanso.


 


Mete a faca no boi, minha gente,


taca a pedra na testa do bicho,


comam suas tripas até vomitar


virem ao avesso esse boi de merda!


 


O mundo  -  o mundo é um imenso curral,


as porteiras estão arregaçadas,


o pasto florido de vermes e moedas,


a churrascada pronta pra começar!


 


Vem cá, meu boizinho lindo, cara de cão!


Eu gosto de tu, desse teu focinho que jorra ouro!


Ah, meu gado de ouro, cheiroso, todo cagado!


Ah, meus ricos animais – sacos, toletes, postas de bostas!


 


 


Eu gosto de tu assim, indo pro abate!


Coisa linda do papai – trambolho peludo!


Eu babo, eu babo – saliva, cuspe, suor!


Ai que gostoso... meu bolso fica duro!


 


Ninguém vai dormir nessa casa!

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