Introduzindo o baixo
Ontem, no lugar da guitarra, usei o baixo. Essa mudança de instrumento foi intencional, para experimentara algumas sonoridades para a cena e sua consequências nos movimentos.
Normalmente o baixo é visto como o fundo do fundo da música em acompanhamento. Mas uma questão que é fundamental para compreender diferentemente esse status menor é o trabalho com as frequências. Sons são ondas físicas, invisíveis.
Na tabela acima temos uma distribuição de sons e sua classificação.
Os sons graves se deslocam para outro espaço acústico que os sons de referência contidiana como a fala humana, a conversação. As ondas mais graves vibram em menor velocidade e nos atingem comporalmente de modo diferente que outras ondas sonoras. Daí uma sensação de preenchimento, de impulso para o movimento, como uma pista, uma trilha para se andar -a base. Esse caráter diretivo dos graves, de chão, de fundamento é traduzido visualmente por um eixo vertical: graves associam ao algo que está em baixo; agudos a algo que está em cima. Essa sensação é psicoacústica.
Há diversas outras associações e efeitos que podem ser explorados. O que importa é ser compreendido que hoje fizemos uma mudança de timbre. Como estamos trabalhando a noção de trabalho em grupo, como um coro, a percepção de mudança de timbre no som é básica para se compreender a flexibilidade corporal. Assim, como os sons mudam, se alteram em seus parâmetros, nossos corpos também se modificam. Somos, como os sons, matérias dinâmicas.
Uma questão a ser enfrentada é que a ascensão do baixo na música popular contemporânea, nessa fusão entre tecnologias e ritmos de matriz africana, fez com facilmente o drive do baixo, seu impulso para o movimento, se torna-se em algo logo identificável, quase automático: o groove predomina sobre a experiência multissensorial. Então, como os grooves muitas vezes estão pré-esquematizados - eu ouço uma bossa, um heavy, uma rumba, etc - haveria que se tomar cuidado em não recair em outra homogeneidade: se antes o baixo era o fundinho, sua vinda percussiva e exponencial para frente como motor de embalo condiciona a audição e o corpo a uma experiência previamente explorada.
Assim, vamos tentar flexibilizar o baixo, usando-o em múltiplas funções.

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